Uma nova terapia genética, cujos primeiros ensaios clínicos em humanos aconteceram na Inglaterra em Fevereiro ao abrigo do projecto europeu Evi-genoret, poderá prevenir em crianças e jovens a cegueira provocada por mutações no gene RPE65.
Durante um encontro promovido pela Comissão Europeia, em Paris, para divulgar os principais resultados na área da investigação de deficiências visuais e auditivas, o professor Robin Ali do Instituto de Ofratlmologia de Londres explicou que a experiência pioneira consiste na injecção do gene nos pacientes que não o têm.
Os doentes que sofrem desta alteração genética, de transmissão hereditária recessiva (os pais transmitem o defeito, mas não estão doentes), têm apenas visão central, e não a periférica e a noturna. A falta de intervenção clínica nestes casos levará à cegueira depois dos 20 anos.
Os resultados dos primeiros dois ensaios clínicos deverão ser divulgados publicamente dentro de 12 a 18 meses, mas o especialista em genética informou que até ao momento não se registaram quaisquer efeitos secundários.
A intervenção experimental aconteceu após 13 anos de investigação, mas Ali estimou à agência Lusa que os futuros avanços deverão acontecer cada vez mais rapidamente, uma vez que as bases estão construídas.
Dentro de cinco anos, o professor acredita que a tecnologia genética será um tratamento terapêutico efectivo e rotineiro que se estenderá às doenças mais comuns provocadas, por exemplo, pela idade ou diabetes.
A cegueira provocada por problemas no gene RPE65 afecta uma pessoa em cada 100 mil.
O trabalho desenvolvido por Robin Ali insere-se no projecto Evi-genoret, que integra equipes de 12 países, entre os quais Portugal, através da Associação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem.
Os principais objectivos do programa, que envolve um investimento de 13,6 milhões de euros (dos quais 10 são suportados pela Comissão Europeia) por quatro anos, são uniformizar e analisar informações desenvolvidas por 25 parceiros acadêmicos e industriais.
Validar essa informação, criando modelos, e desenvolver novas terapias biológicas e genéticas são outras das metas do projeto.
A nível global, estima-se que 50 milhões de pessoas sejam cegas e que nos próximos 20 anos esse valor chegue aos 75 milhões.
Na Europa, 15,5 milhões de indivíduos são deficientes visuais e 2,7 milhões são completamente cegos. O custo financeiro destes problemas está estimado em 100 milhões de euros por ano.