Basicamente, pequenas moléculas de RNA são sintetizadas nas células, a partir do seu genoma, de modo a produzir estruturas similares a grampos, formando moléculas de RNA dupla-fita que controlam a expressão de genes celulares, seja a partir da degradação do RNA mensageiro, seja a partir de um bloqueio da síntese proteica. Esse sistema interfere na expressão gênica das células, e por isso recebeu o nome de RNA interferência (RNAi). A descoberta do mecanismo de RNAi mudou completamente a forma como entendemos o metabolismo de controle genético na célula humana, e também propiciou uma ferramenta poderosa para inibir genes específicos e assim de terminar sua função na célula. Isso pode ser obtido pela introdução de uma pequena molécula duplex de RNA (19 a 30 pares de base) diretamente nas células em cultura, visando a o silenciamento específico do gene-alvo a ser estudado. Essas moléculas, conhecidas como si RNA (small interfering RNA), devem ser complementares à sequência do gene-alvo e podem reduzir a expressão deste em até 80%. Alternativamente, vetores (em geral derivados de vírus, como adenovírus , retrovírus ou vírus adenoassociados) podem também ser usados par a entregar, no interior das células, genes que expressam uma molécula de RNA palindrômica, que pode gerar uma duplex de RNA na forma de grampo , conhecida como shRNA (do inglês short hairp in RNA). Como o siRNA, o shRNA tem como objetivo o silenciamento do gene-alvo em estudo, apresentando a possibilidade de um silenciamento permanente nas células, no caso de uso d e retrovírus. O mecanismo d e silenciamento gênico por RNAi é ilustrado n a Figura abaixo.
Cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, usaram com sucesso um tratamento à base de reposição de genes para tratar uma rara forma de cegueira. Os especialistas trataram 12 pacientes que sofriam de cegueira por alterações na retina causadas por mutações em um grupo de 13 genes diferentes.
Os pacientes envolvidos na pesquisa tinham entre 8 e 44 anos de idade e apresentavam Amaurose de Leber. Essa doença evolui desde a infância para a cegueira e é associada a movimentos involuntários dos olhos.
O tratamento consistiu na injeção, diretamente na retina desses pacientes, de uma combinação entre um vírus que carregava um gene capaz de induzir a produção de uma proteína necessária ao funcionamento normal da retina.
O veículo de transporte para o material genético é um vírus atenuado, sem capacidade de causar infecção, que recebe em laboratório a adição de material genético que repõe a falta causada pela doença.
Todos os pacientes tratados apresentaram melhora nos exames realizados para acompanhamento. Os testes objetivos e subjetivos de medida de identificação de luz e resposta da pupila apresentaram graus variados de melhora.
Um fator importante no grau de recuperação dos pacientes foi a idade: nos mais jovens os médicos conseguiram que o olho tratado apresentasse níveis semelhantes aos de crianças normais.
Os bons resultados se mantiveram na avaliação posterior, dois anos depois, trazendo esperança para que esse tipo de tratamento possa ser ampliado para outras manifestações de alterações genéticas que levam à cegueira.